Projetos

2010

Mar [Fragata]

Fragata é uma exposição individual ocorrida no MAC Niterói com curadoria de Guilherme Bueno, com Fragata (uma série de desenhos em papel carbono em que figuravam navios da frota marinha brasileira), a instalação Previsão (vídeo em monitor de segurança) e o livro de artista Mar.


Horizonte à deriva

Fragata reúne desenhos feitos com e a partir de folhas de carbono, um livro-objeto e um vídeo. Vistos lado a lado, poderíamos considera-los paisagem; imagem e espaço continuamente se mesclam, manifestando-se por desconcertos: é a escolha de uma paisagem enviesada (os navios encalhados, quebrando qualquer encanto), a imagem que só existe como reprodução (visto que até o desenho original nasce em papel feito para cópia), o ritmo da exposição, que, como as ondas, vaga entre partes mais densas e outras na qual o vazio prevalecente parece espelhar um afastamento rumo ao horizonte.

Ali o vazio é apropriado como espaço e tempo, fazendo-o tornar-se narrativa: a travessia do olho percorrendo os “acidentes” da imagem (traços diversos deixados pelo autor; o desenho é marco e vestígio) e os “abismos” entre um trabalho e outro ao longo da galeria invocam no espectador a ansiedade por encontrar um ponto de olhar seguro. Imagem à vista...

Há, assim, uma lógica mais do que imagética, fotográfica nestes trabalhos, por conta de sua “temporalidade”, que defronta a paisagem “real” e aquela outra ali mostrada (que anda tem de registro, pois não nasceu de nenhum contato direto, tendo sido, ao contrário, montada desde o início por simulacros, reproduções para lá de codificadas). Mas também, naquilo que se calcula uma proposital neutralidade expressiva, invertendo o desejo de toda a imagem de ser marcante. Ora avançando, ora recuando, sobrepondo-se, “afundando” ou dissolvendo-se nas brumas do papel, alguns desenhos, progressivamente, por vezes não nítidos, em outras quase invisíveis. Captura de metáforas à deriva, daquilo que é só há um tempo e imperceptivelmente presença e desaparição. Ao abolir qualquer chance de drama, ela é uma imagem apesar de si mesma. E a folha de papel, o imenso oceano que tudo engole.

Horizon adrify

Fragata gathers drawings made with, and inspired by, sheets of carbono paper, na object-book and a vídeo. Seen side by side, we could regard them as landscape, image and space in a continuous blend, being represented by disorder: the choice of a zigzagging landscape (or grounded ships, breaking any kind of charm), the image that only exists as reproduction (seeing as even the original drawing stems from paper made for copying), the rhythm of the exhibition, that, like the waves, rises in the more dense parts and falls where the prevailing emptiness seems to reflect a shift away toward the horizon.

There the emptiness is appropriated as space and time, making it become the narrative: the eye crosses over the “accidents” of the image (diferente traces left by the authir; the drawing is the mark and the remains) and the “abysms” between one work and another throughout the gallery invoque the viewer na anxiety to find a safe viewpoint. Imagine ahoy...

These pieces, therefore, are of a more logical than imagetic or photographic nature, due to their “temporality”, which confronts the “real” landscape and the other one portrayed therein (that has nothing recorded, as it was not born of direct contact, on the contrary, it was assembled from the outset by simulacros, highly encoded reproductions). But also in that which is determined intentional expressive neutrality, inverting the desire of every image toe b striking. Now coming in, now going out, overlapping, “sinking” or dissolving in the misto f the paper, as they progress some drawings are sometimessharp, others almost invisible. The capture of metaphors floating adrift, from that which exists at once with a blured imperception of its rpesence and disappearance. Abolishing any chance of drama, it is an image despite itself. And the sheet of paper, the immense ocean that swallows all.

Guilherme Bueno
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fotos: vicente mello.