Curadoria para exposição da artista deyson gilbert no centro cultural são paulo
Sempre em frente
“A linha ao lado deste texto retira todo o caráter estético, simbólico, político e econômico de tudo aquilo que se encontra a sua direita.”
Como reagir à ação que constitui “Linha”, trabalho de Deyson Gilbert?
A arbitrariedade de seu tom assertivo nos parece absurda. Mas o absurdo de sua afirmação aponta para a arbitrariedade da ideologia que constantemente nos demanda o esvaziamento de tudo o que for político, estético, econômico. E que constantemente nos afirma que este esvaziamento é, não só possível, como necessário a uma série decisões necessárias. Não só necessário, mas pressuposto aos valores a nós mais caros. Aliás, trivial. Algo a que nos acostumamos, e que fazemos de forma eficiente pelo bom funcionamento social. Ideologia que traveste todo questionamento de entrave à fluidez dos acontecimentos, de qualquer forma tão previsíveis quanto inevitáveis.
O verdadeiro desafio, portanto, é reagir a isto que origina o teor revelado por tal afirmação arbitrária. E ampliar de forma decidida esse estranhamento proposto para a percepção, do espaço expositivo para os espaços da vida quotidiana, inclusive para o espaço reservado à escrita da crítica.
“A linha ao lado deste texto retira e esvazia, irrevogavelmente, todo o caráter estético, simbólico, político, econômico crítico e educacional de todo e qualquer conteúdo que se encontra a sua direita.”
Por que sempre haverá uma reação padrão, uma reatividade instintiva, uma análise enfraquecida, que se precipitará em balbuciar termos e datas, categorias e filiações, lavras de propriedade intelectual e registros em cartório acadêmico. E assim estaremos combinados sobre o quê e com quem estamos lidando.
O desafio é o de nos perguntarmos em que momento foi traçada esta linha. Em que momento do dia de hoje ela nos anula em sua ordem absurda, para nós cada vez mais convincente.
Mas se disso resultar muito esforço, ou sentirmos a desafio dramático demais (nada elegante), e nos parecer obviamente razoável alinhar este gesto arbitrário a uma certa linhagem de artistas que tradicionalmente se engajam e desengajam, então o melhor é continuarmos seguindo pela exposição à procura de características repetidas que se encaixem decorativamente em um conceito impecavelmente limpo, como deve ser o próprio espaço expositivo.
Seguindo a linha de amarelo fluorescente que nos separa das obras, passo a passo, a linha que define acima e abaixo do Cruzeiro do Sul, a linha que constrói a perspectiva dos espaços à custa da aporia confortável, a linha do horizonte feita de concreto armado, sempre a linha e tudo à sua direita. Para seguir em frente, por favor, um passo à direita.
gilberto mariotti
Sempre em frente
“A linha ao lado deste texto retira todo o caráter estético, simbólico, político e econômico de tudo aquilo que se encontra a sua direita.”
Como reagir à ação que constitui “Linha”, trabalho de Deyson Gilbert?
A arbitrariedade de seu tom assertivo nos parece absurda. Mas o absurdo de sua afirmação aponta para a arbitrariedade da ideologia que constantemente nos demanda o esvaziamento de tudo o que for político, estético, econômico. E que constantemente nos afirma que este esvaziamento é, não só possível, como necessário a uma série decisões necessárias. Não só necessário, mas pressuposto aos valores a nós mais caros. Aliás, trivial. Algo a que nos acostumamos, e que fazemos de forma eficiente pelo bom funcionamento social. Ideologia que traveste todo questionamento de entrave à fluidez dos acontecimentos, de qualquer forma tão previsíveis quanto inevitáveis.
O verdadeiro desafio, portanto, é reagir a isto que origina o teor revelado por tal afirmação arbitrária. E ampliar de forma decidida esse estranhamento proposto para a percepção, do espaço expositivo para os espaços da vida quotidiana, inclusive para o espaço reservado à escrita da crítica.
“A linha ao lado deste texto retira e esvazia, irrevogavelmente, todo o caráter estético, simbólico, político, econômico crítico e educacional de todo e qualquer conteúdo que se encontra a sua direita.”
Por que sempre haverá uma reação padrão, uma reatividade instintiva, uma análise enfraquecida, que se precipitará em balbuciar termos e datas, categorias e filiações, lavras de propriedade intelectual e registros em cartório acadêmico. E assim estaremos combinados sobre o quê e com quem estamos lidando.
O desafio é o de nos perguntarmos em que momento foi traçada esta linha. Em que momento do dia de hoje ela nos anula em sua ordem absurda, para nós cada vez mais convincente.
Mas se disso resultar muito esforço, ou sentirmos a desafio dramático demais (nada elegante), e nos parecer obviamente razoável alinhar este gesto arbitrário a uma certa linhagem de artistas que tradicionalmente se engajam e desengajam, então o melhor é continuarmos seguindo pela exposição à procura de características repetidas que se encaixem decorativamente em um conceito impecavelmente limpo, como deve ser o próprio espaço expositivo.
Seguindo a linha de amarelo fluorescente que nos separa das obras, passo a passo, a linha que define acima e abaixo do Cruzeiro do Sul, a linha que constrói a perspectiva dos espaços à custa da aporia confortável, a linha do horizonte feita de concreto armado, sempre a linha e tudo à sua direita. Para seguir em frente, por favor, um passo à direita.
gilberto mariotti